Um novo modelo de varejo. Foi assim que a maior importadora de vinhos da América Latina, com mais de 50 franquias, anunciou em agosto o lançamento da Gran Cru ao Vivo, loja virtual com atendimento físico. Trata-se do live commerce, um novo conceito, que mistura os universos on-line e off-line, permitindo ao cliente interagir em tempo real com o vendedor via streaming para tirar dúvidas e auxiliar na compra. “Fomos a segunda marca a adotar esse modelo, a primeira no segmento de bebidas”, diz Alexandre Bratt, diretor comercial da Gran Cru, em matéria publicada hoje (23) no Valor Econômico. “O pioneirismo deu resultado. Em 2019, o e-commerce respondia por 8% do faturamento, agora representa 24%.”
A Gran Cru é um bom exemplo da transformação digital das franquias em 2020. Segundo estudo da Associação Brasileira de Franchising (ABF), a adesão das redes ao e-commerce passou de 61% em 2019 para 70% no primeiro semestre, com a participação dos franqueados no canal saltando de 51,9% para 91,6% no mesmo período. “Nas grandes redes a digitalização já fazia parte do processo, nas médias e pequenas foi a saída encontrada para continuar trabalhando durante a pandemia e diminuir os atritos na jornada do cliente”, afirma Carlos Zilli, membro do Comitê de Transformação Digital da ABF. “Tamanha mudança colaborou, inclusive, com a geração de novos modelos de negócios.”
Com a operação fechada por quase cem dias, a rede Divino Fogão foi obrigada a virar o jogo com rapidez. “O delivery não fazia parte da nossa realidade, tivemos de adaptar os espaços e conseguimos colocar o serviço em 60% das 172 unidades”, diz o fundador Reinaldo Varela. “Também começamos a operar com dark kitchens, a partir de hotéis e restaurantes parceiros, com entregas pelo iFood.”
A Divino Fogão não é a única franquia disposta a expandir com parceiros nas chamadas cozinhas de portas fechadas. O modelo faz parte das intenções de 45% das redes que participaram da pesquisa Pocket Setorial Alimentação ABF. O estudo revelou ainda que o delivery dobrou sua participação no faturamento das redes, passando de 18% para 36%, assim como cresceu a captura mista de pedidos (canais próprios e marketplaces), que passou de 45% para 73%.
Na visão de Antonio Moreira Leite, CEO do Grupo Trigo, com quatro marcas no portfólio, não basta investir em novos canais e em ferramentas digitais, é preciso mudar de mentalidade. “Tem de ser protagonista, firmar relações, captar dados, gerar inteligência e construir modelos digitais integrando os franqueados”, declara.
Para Rodrigo Barros, CEO da Boali, o maior desafio é implantar a cultura da digitalização em todas as áreas. “Trabalhamos para criar novos canais de venda a partir da mesma operação.” E não foram poucos: Hub Urbano, com vendas de produtos via iFood tendo a loja como centro de distribuição; dark kitchens para testar praças inexploradas; micromarkets voltados a condomínios residenciais e comerciais, com vendas feita pelo app, totens ou QRCode, além do lançamento de duas novas marcas, a Sandureba e a Vegan Lovers, disponíveis apenas no delivery.
Fonte: Valor Econômico
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