“Sou muito otimista em relação ao que vem depois da crise”, disse Sergio Molinari

Em episódio inédito de “O Futuro da Alimentação”, Rodrigo Barros, CEO da Boali, recebeu Sergio Molinari, sócio fundador da Food Consulting, uma das mais importantes consultorias especializadas no mercado de foodservice no país e grande especialista do setor. Durante a conversa, Sergio que também criou e ministra os cursos sobre Foodservice na ESPM, falou sobre erros e acertos dos empreendedores em tempos de pandemia, diversificação de canais, experimentação de consumo e trouxe alguns dados comparativos entre o mercado nacional e internacional.

De início o especialista disse não gostar de livros, mas alertou sobre a importância do hábito ao falar que se trata de “um antídoto contra obsolescência buscar um pouco de conhecimento”. Segundo ele, a maioria dos empresários não colocam muita energia no campo do desenvolvimento de conhecimento por isso, quem o faz, consegue se destacar e sair na frente do concorrente. “Se você não enxergar valor na ampliação do seu conhecimento e isso não reverter como algo positivo para o seu negócio, você não o faria. Enxergar valor nas coisas acaba sempre sendo um motor motivador”, alertou.

Depois de aquecer a conversa sobre aprendizados ao lado do CEO da Boali, Molinari foi enfático ao afirmar que boa parte do empresariado do setor de foodservice já era frágil antes mesmo da pandemia de Covid-19, com fundamentos do negócio como gestão e posicionamento “muito delicados”. Segundo dados, existem cerca de 1,3 milhão de estabelecimentos formais no Brasil, dos quais 300 mil deve desaparecer “muito pela fragilidade destes fundamentos”, alerta. 

O mercado americano (falando em dinheiro) é sete vezes maior que o brasileiro e em termos de número de estabelecimentos, nosso país tem 30% a mais que os Estados Unidos. A partir destes dados já é possível se ter uma dimensão do quanto o Brasil tem empresas muito pequenas e, segundo Molinari, o mal não é ser pequeno, mas sim a falta de consciência que isso às vezes afasta e não leva a empresa rumo ao desenvolvimento. “Misturar a pessoa física com a jurídica é um erro. Você acaba não colocando a energia necessária para dar ainda mais gás e avançar com o negócio” e completou ao citar que empreendedor e aventureiro são coisas diferentes. “Entre as características do empreendedor estão a resiliência, coragem, ímpeto, inspiração, mas também tem muito preparo. Não dá para não fazer o básico.”

Sobre diversificação de canais, o especialista citou que os brasileiros têm consumido em mais momentos e situações de consumo do dia, além da diversidade de especialidades e, de acordo com ele, isso não tem nada a ver com a pandemia. “É necessário separar o que acontece como efeito da pandemia e o que acontece como evolução natural do padrão de consumo. Essa diversificação já vinha ao logo dos últimos anos, mas começou a se acelerar a partir da introdução da tecnologia no combate ao coronavírus”, alertou Molinari, ao reforçar que “somos consumidores em diversos tipos de serviço e todas as transformações nos demais setores fazem com que a gente queira, também, essa diversificação no setor de foodservice.”

Número do foodservive no Brasil vs mundo

O sócio fundador da Food Consulting lembrou que o Brasil é a 9ª maior economia do mundo e, com tantas coisas ruins acontecendo, às vezes nos esquecemos das dimensões positivas. Ele comentou que o Brasil é o quarto maior mercado mundial do foodservice atrás apenas dos EUA, China e Japão – com grande possibilidade de ultrapassagem vinda da Índia por conta da quantidade de indianos no mundo -, além do quarto maior no mundo em número de estabelecimentos.

Hoje, os grandes motores que impulsionam o mercado são os mesmos do mundo, como crescimento do PIB e, especialmente, renda e emprego. E, de acordo com Molinari, o que o país está vivendo neste momento (em relação ao coronavírus) não é novidade no mundo. “Estamos seguindo um ritmo muito parecido com outros países. E o que muda é que o nosso mercado é muito mais baseado em estabelecimentos independentes do que redes, tornando-o mais frágil”, disse.

Molinari comentou ainda que o mercado brasileiro vai encerrar 2020 com mais de 30% de queda se comparado ao ano anterior, sendo que o maior registro até então havia sido de 3% em 2016. Nessa queda, cerca de 20% a 25% dos estabelecimentos, segundo ele, fecham em definitivo. Já a projeção de número de lojas fechadas em redes é de menos de 5%. “A resiliência das redes acaba sendo maior em um momento como esse”, explicou o especialista.

Sobre o futuro do mercado de foodservice Molinari prevê que, mês a mês, o setor deva encerrar dezembro entre 85% e 88% daquilo que foi o mesmo mês no ano anterior, ou seja, 15% abaixo de 2019. Já 2021 será um ano inteiro baseado a partir de 15% abaixo de 2019. “É provável que 2021 seja superior a 20%”, espera Molinari.

Hack pela Gastronomia

Sergio Molinari é também um dos curadores do “Hack pela Gastronomia”. Juntas, corporações, instituições e entidades juntam forças para encontrar soluções reais e beneficiar os cerca de 1 milhão de negócios do setor em todo o Brasil. Nos talks que irão discutir os principais desafios do setor nos cinco grandes temas do Hack participam mais de 45 profissionais do mercado de food service e da gastronomia nacional.

O evento virtual conta com uma série de discussões temáticas sobre o mercado, realizadas até 9 de setembro (começou dia 1° deste mês), e um hackathon de cinco dias, entre 12 e 16 de setembro, que reunirá mentes criativas e representantes das empresas para ajudar na solução dos problemas dos negócios (confira tudo aqui). A ação resultará na criação de um banco de oportunidades e ideias para que toda a cadeia de foodservice se desenvolva ainda mais neste momento desafiador.  Rodrigo Barros, CEO da Boali, é um dos mentores.

Questionado sobre o futuro da alimentação, o especialista disse que a busca pela memória afetiva, que remeta àquilo que é importante para cada indivíduo e a cada dia mais, precisa ser acessível. Sergio ainda disse ser muito otimista em relação do que vem depois da crise. [Nós por aqui compartilhamos dessa opinião].

Confira o bate papo em formato de podcast no spotify nesse link, ou acesse o vídeo completo:

 

Foto: reprodução da internet

 

3 Responses
  1. Novamente, muito obrigado pelo ótimo papo, Rodrigo e toda a equipe. Parabéns pela iniciativa de compartilhar conhecimento e reflexão, fundamentais para que nosso mercado seja cada vez mais forte e melhor para todos.
    Contem comigo e meu desejo de muito sucesso sempre.
    Grande abraço.
    Molinari

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